Plano de defesa nacional dos militares submete Brasil aos interesses dos EUA
É preciso que o Congresso Nacional, suas comissões de relações exteriores e defesa nacional, submetam ao país e à nação a nova política de defesa nacional. Cabe a nós a tarefa de esclarecer o povo sobre essa proposta nefasta e anti-nacional, evitando que nossa soberania e independência sejam novamente submetidas aos interesses externos dos Estados Unidos.
A política externa volta à agenda nacional, agora com sua irmã gêmea a defesa nacional. Até então, na prática, o governo Bolsonaro havia terceirizado nossa política externa para o Departamento de Estado dos Estados Unidos. Basta conferir as posições do Itamaraty e os votos em todos organismos internacionais. Para nossa vergonha e isolamento internacional, contribuiu também o negacionismo genocida no enfrentamento da pandemia. Não bastasse tudo isso, quase nos envolvemos na agressão e bloqueio estadunidenses à Venezuela e à Cuba, uma guerra híbrida que não deixa de ser mortal e destruidora como as travadas contra o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e o Iêmen.
O governo Bolsonaro encaminhará ao Congresso Nacional a Nova Política de Defesa, aprovada nos governos petistas e revisadas a cada quatro anos. As novidades são duas e parecem inofensivas. No entanto, mudam toda nossa agenda internacional e, em consequência, nossos interesses e objetivos. Em resumo, os militares propõem que nos concentremos nos possíveis conflitos, tensões e crises no continente sul americano, que não poderão de deixar de ocorrer em função dos antecedentes de nossa política externa sob Bolsonaro. A outra mudança relevante diz respeito à China. Da agenda fazem parte, pela pressão que exercem sobre o mundo, a questão climática e a pandemia do Covid 19.
O que muda? Sai a integração regional, com o Mercosul e a Unasul substituídos pelas tensões e crises na região. O documento não cita, mas o foco é a Venezuela, já que o Brasil se alinhou totalmente à política do governo Trump de agressão e isolamento ao nosso vizinho como na provocação montada, sob a capa de ajuda humanitária, em busca de um pretexto para a invasão daquele país. Nenhuma palavra sobre o principal interesse nacional do Brasil no chamado Cone Sul que é a integração econômica e política, a exportação de capitais, tecnologia e serviços e a construção de uma União Sul Americana a exemplo da União Europeia.
A proposta do governo reafirma o alinhamento a Washington em sua cruzada anti-chinesa que em nada corresponde aos nossos interesses nacionais.
Os Estados Unidos sob Trump conduzem uma política externa de desmonte do multilateralismo e das organizações internacionais, como desmontaram os acordos com os países asiáticos e latino- americanos, o Tratado de Associação Transpacífico (TPP) e o acordo de parceria Transatlântica de comércio e investimentos com a União Europeia. Além disso, apoiaram abertamente o Brexit que levou a Grã Bretanha a abandonar a União Europeia.
Política de defesa atrelada aos EUA
Com as mudanças propostas pelos militares, vamos consolidar uma política de defesa que é diretamente atrelada à política pró Estados Unidos, eixo de toda nossa política externa, que vem desconstruindo nossas relações e interesses não apenas na América do Sul, mas, também, no mundo árabe ao alinhar o Brasil à política do Departamento de Estado estadunidense no que se refere ao conflito Israel-Palestina, assumindo posições e votos abertamente anti-Palestina soberana e independente de acordo com as resoluções da Nações Unidas.
Não é diferente no que diz respeito à África. O que vemos é o abandono de toda política construída nos governos do PT, amparadas na convicção de que nossas raízes culturais e nacionais eram e são a porta de entrada para o Brasil para aquele continente.
No fundo o que estamos assistindo é a submissão de nossa política externa e de defesa ao Departamento de Estado, ao Comando Sul e à OTAN, quando o Brasil, ao lado da China, Índia, Rússia, Turquia e Irã, é um país com todas condições de conquistar protagonismo político e econômico em nível mundial por ser de fato uma das maiores economias do mundo e quinto país em território, sexto em população, com base industrial e tecnológica, soberania alimentar e energética, capacidade científica. Aliás, protagonismo que conquistou e exerceu, como aconteceu nos governos Lula e Dilma.
Brasil precisa recuperar protagonismo
Para o Brasil superar sua crise atual, é condição que ocupe seu papel no mundo e se transforme no centro da integração sul americana e em um dos líderes do nova geopolítica mundial que a ascensão da China e a decadência do império norte-americano anunciam. Basta ver as mudanças ocorridas no últimos anos na Europa com sua crise estrutural e a saída da Grã Bretanha; os papéis de liderança da Rússia na Europa e do Irã no Oriente Médio e no Golfo; e a agressiva política externa turca na Líbia e na Síria.
Ao renunciarmos ao nosso papel de líder natural na América do Sul, renunciamos a uma das condições de nosso desenvolvimento nacional e contrariamos todos nossos interesses nacionais. O Brasil jamais deveria submeter sua política externa e de defesa aos Estados Unidos. Temos exemplos de sobra ao que esta dependência conduz. Dois deles: a Argentina ficou falando sozinha e sofreu fragorosa derrota quando do conflito com a Grã Bretanha em torno da soberania sobre as Malvinas; a Europa viu-se seu aliado dar-lhe as costas no episódio do Brexit.
Está evidente que o único que conta para os Estados Unidos são seus interesses, sua hegemonia e o “império”,, e nada mais. No passado o Brasil soube se alinhar com Nehru e Nasser, com Fidel e Tito e demais lideranças para formar a Terceira Via que buscava, na Guerra Fria, preservar a soberania e independência das ex- colônias sem se alinhar com os Estados Unidos ou com a então URSS.
Lula não se submeteu à “guerra contra o terrorismo”, hoje desmoralizada após as fracassadas invasões ao Iraque e Afeganistão. Corretamente priorizou a luta contra a pobreza e a miséria no Brasil e no mundo.
Assim, é preciso que o Congresso Nacional, suas comissões de relações exteriores e defesa nacional, submetam ao país e à nação essa nova política de defesa nacional, impedindo o que aconteceu com a reforma da previdência dos militares apenas discutida e votada nas comissões em ir a plenário, escondendo do povo os privilégios que recebiam. Cabe a nós a tarefa de esclarecer o povo sobre essa proposta nefasta e anti-nacional, evitando que nossa soberania e independência sejam novamente submetidas aos interesses externos dos Estados Unidos.
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