5 de nov. de 2018

Atingidos por crime da Samarco em Mariana ainda cobram reparação


APÓS TRÊS ANOS

Atingidos por crime da Samarco em Mariana ainda cobram reparação

Dos 43 municípios atingidos, apenas quatro contam com assessoria técnica para a população. Mais de 1 milhão de moradores da Bacia do Rio Doce sequer foram reconhecidos como atingidos; 70% das mulheres
por Redação RBA publicado 05/11/2018 17h19
YURI BARICHIVICH / GREENPEACE
mariana três anos
'Muita coisa foi prometida e até hoje nada', reclamam moradores
São Paulo – Para marcar os três anos do crime ambiental da Samarco, que devastou o Rio Doce em 5 de novembro de 2015, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) preparou uma série de atividades na cidade mais atingida, Mariana (MG). O principal evento reuniu moradoras de toda a região para cobrar reparação da empresa e criticar a lentidão da Justiça. “Muita coisa foi prometida e até hoje nada”, critica a indígena Josenita Pego.
Hoje faz três anos da primeira negociação numa sala fechada. Fizemos vários encontros com a Samarco, mas nada aconteceu”, afirma durante o evento “Encontro de Mulheres e Crianças Atingidas do Rio Doce”. No local da tragédia do rompimento da barragem do Fundão, distrito de Bento Rodrigues, nenhuma casa foi reconstruída, a população afetada não foi ressarcida e a empresa, nem suas controladoras, a BHP Billington e a Vale, foram punidas.
O encontro de mulheres faz parte de uma série de ações do MAB, que vão até o dia 14. A “Marcha Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça” denuncia a Fundação Renova, constituída pelas empresas envolvidas para reparar os danos, como ineficiente. “A Fundação Renova foi criada para que se esqueça quem cometeu o crime, para esconder o nome das empresas Samarco, BHP e Vale”, afirma a presidenta da CUT Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, deputada estadual eleita (PT).
Beatriz falou também sobre a ausência de atitudes concretas do corpo político, em especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. “Precisamos ocupar esse lugar para que os criminosos sejam punidos e para rever o modelo de mineração que afeta tantas famílias e tantas vidas.”
A deputada eleita falou sobre a importância do MAB neste momento de dificuldade na vida dos afetados, e lamentou movimento de setores políticos e da sociedade que falam em criminalização das lutas sociais. “No momento do ódio não há nada mais revolucionário do que o afeto. Convido todas a se levantar e abraçar a companheira ao lado. Nos abracemos, nos fortalecemos, entendendo a necessidade de cada uma que está fazendo essa luta.”
Aline Ruas, militante do MAB, reforçou a fala de Beatriz. “Não vamos admitir isso (a criminalização dos movimentos sociais) na sociedade brasileira, que é muito bonita por ser como é. Somos exemplo de luta e, por isso, temos que contagiar todo o povo brasileiro, por mais difícil que seja a conjuntura.”

Balanço do desastre

Em nota, o MAB faz um balanço do descaso das empresas e do poder público com os afetados do desastre de Mariana. “O MAB jamais esquecerá dos 19 mortos e do aborto forçado pela lama, 1.600 desalojados logo após o crime e mais 1.200 novos casos ao longo dos três anos. Três municípios sem abastecimento de água (apenas com caminhão pipa há três anos: Resplendor, Itueta e Ipaba).”
Dos 43 municípios atingidos, apenas quatro deles contam com assessoria técnica para frear a contaminação por metais pesados, que acarretam em problemas de saúde relatados em toda a Bacia do Rio Doce.
O MAB ainda denuncia que, após o cadastramento de 300 mil atingidos pela Fundação Renova, “mais de 1 milhão ficarão sem reconhecimento. 70% das mulheres cadastradas não obtiveram resposta alguma, 17 aldeias, quatro territórios e três povos, um total de 3.540 indígenas atingidos”. “São oito municípios, totalizando 633.373 habitantes abastecidos com água contaminada, a pesca está proibida em toda Bacia e em parte do litoral sem previsão de retorno. Milhares de trabalhadores da rede de pesca estão sem trabalho”, completa o movimento.

Delegação internacional

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) está no Brasil para uma série de observações, em especial sobre a situação campesina. Amanhã (6), a comissão estará em Ouro Preto (MG) e Mariana. Das visitas, devem sair relatórios e documentos de recomendações sobre os impactos de indústrias extrativas e impactos socioambientais.
https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2018/11/apos-tres-anos-atingidos-por-crime-da-samarco-em-mariana-ainda-cobram-reparacao
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