Alta no preço dos combustíveis é culpa da Petrobras, e não do mercado internacional
Alta no preço dos combustíveis é culpa da Petrobras, e não do mercado internacional A alta no preço dos combustíveis, que tem ocasionado à greve dos caminhoneiros, coloca o país em sinal de alerta: há risco de desabastecimento de diesel, querosene, gasolina e gás. As consequências são muitas: interrupção de serviços de transporte e aviação, criação de gargalos logísticos e de infraestrutura, interrupção da produção de bens industriais e da distribuição de alimentos, além da pressão inflacionária sobre os preços de insumos básicos. Tudo isso combinado a um cenário geopolítico marcado por tensões na Venezuela e no Oriente Médio, que tem provocado o aumento internacional do preço no barril de petróleo; somado a um ambiente macroeconômico onde há sinais de mudança na política monetária dos EUA, o que tem provocado a saída de capitais estrangeiros nos países emergentes. O Brasil, entretanto, possui reservas e produção de petróleo suficientes para aproveitar a elevação internacional do preço do barril de óleo cru de forma positiva, mas o atual cenário nacional mostra que o aumento de preços tem se traduzido, na verdade, em revolta nos postos de combustíveis e paralisações nas principais estradas do país. Onde estamos errando? Um dos responsáveis pelo aumento nos combustíveis é a política recente da Petrobras de ajustar os preços diariamente de acordo com as variações do mercado internacional. Só para se ter uma noção: desde 20 de fevereiro, o preço da gasolina vendido pelas refinarias da Petrobras aumentou 35%, saindo de 1,52 real o litro para 2,04 reais o litro. Somente no último mês, esse aumento foi de 19%. Com o aumento extraordinário dos preços, a estratégia recente da Petrobras tem sido objeto de críticas por economistas sob diferentes pontos de vista. O principal apontado diz respeito à condução pela empresa do preço do combustível, sempre refratário às flutuações internacionais, sem levar em conta a capacidade que a estatal tem para abastecer o mercado interno. Nesse sentido, a Petrobras falha na política de preços ao permitir que o custo dos combustíveis seja afetado diariamente pelas variações do mercado internacional, especialmente quando se leva em conta que o país é autossuficiente na produção de petróleo cru. Não é o mesmo caso dos grandes países consumidores, que além de serem os principais produtores, em alguns casos, são também os maiores importadores. A flutuação dos preços nesses países é compreensível, portanto, porque segue de acordo com o mercado internacional, tendo em vista que o consumo doméstico desses depende diretamente das importações de gasolina, diesel, etc. Em um país independente de importações, como o Brasil, é mais provável que essa política seja uma estratégia da companhia de cobrir os custos variáveis e gerar lucro do que por estar sujeita às movimentações dos preços internacionais. Além disso, a nova política da Petrobras de refino baseada na venda de refinarias e na diminuição da produção de derivados tem deixado o país refém dos traders internacionais e das importações, uma vez que a petrolífera brasileira exporta óleo cru e importa das petrolíferas estrangeiras os derivados. Na prática, significa que a Petrobras está abandonando suas funções de uma empresa integrada do "poço ao posto", capaz de gerar produtos com alto valor agregado, para se restringir a condição de exportadora, "do poço ao porto", colocando à venda refinarias importantes como Landolpho Alves, Abre e Lima, Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini, deixando pelo caminho parte de sua capacidade instalada de refino em um mercado muito rentável e onde a estatal sempre teve total controle. Quem ganha com isso é o mercado financeiro internacional, as grandes petrolíferas globais - e, indiretamente, o agronegócio produtor de cana de açúcar e etanol. Quem perde é o mercado interno brasileiro, com a possibilidade de autossuficiência energética sendo substituída gradativamente pela priorização do atendimento dos interesses financeirizados; já a indústria nacional também sai prejudicada pelo encarecimento dos custos de produção e pelo já referido desabastecimento. Quem mais sofre, entretanto, são os trabalhadores e consumidores, que têm o seu poder de compra reduzidos sensivelmente, empobrecidos à custo do enriquecimento dos mais ricos.
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