7 de nov. de 2018

SBT nasceu após troca de favores com a ditadura / Por Mauricio Miranda - estudante de jornalismo da UNIFIEO

SBT nasceu após troca de favores com a ditadura / Por Mauricio Miranda - estudante de jornalismo da UNIFIEO

Por Mauricio Miranda - estudante de jornalismo da UNIFIEO 19/05/2005 15:45



A trajetória da segunda maior rede de televisão do Brasil, localizada na
cidade de Osasco, que nasceu após um acordo com integrantes do governo militar.

O sítio Paiva Ramos, no extremo norte da cidade de Osasco, foi invadido em
agosto de 1996 por um mundo de sensacionalismo, dinheiro, fama e entretenimento.
Pois, a segunda maior rede de televisão do país, em comemoração aos seus 15 anos de
existência, concentrava seus estúdios no ousado Complexo Anhanguera,
popularmente conhecido como "Cidade de Televisão", ou CDT. Um investimento de
aproximadamente 120 milhões de dólares, que ocupa 231 mil m² e fez o Sistema Brasileiro de Televisão, SBT, concretizar o seu principal objetivo: "O futuro não pode ser
apenas planejado, tem que ser construído".

Este Complexo estava longe dos sonhos do apresentador e empresário Sílvio
Santos,quando ele reencontrou seu antigo colega da Escola de Para-Quedistas, Délio
Jardim de Matos, então Ministro da Aeronáutica do governo militar de João
Figueiredo. O colega o ajudaria a conseguir a concessão federal para construir o SBT.

Segundo o jornalista Mario Sergio Conti, em seu livro Notícias do Planalto,
S.S arquitetou, por meio de um acordo de amigos, uma estratégia para conseguir a
liberação de Figueiredo. Combinou com Matos alavancar a carreira da dupla
Dom e Ravel, cantores que valorizavam a ditadura militar, em troca do apoio do
ministro junto ao presidente. Aproveitou também o parentesco de José Renato, jurado
do seu programa de auditório, com a primeira-dama Dulce Figueiredo e conseguiu a
concessão, derrubando nomes como a Editora Abril, o Grupo Bloch, da revista Manchete e O Jornal do Brasil.

Apoiado na estrutura financeira do Grupo Sílvio Santos, entrava no ar no dia
18 de agosto de 1981 o Sistema Brasileiro de Televisão, que, obrigado por lei a
oferecer 12 horas de programação recheou sua grade com desenhos, filmes, seriados e,
é claro, o programa de S.S., que já fazia sucesso no tempo em que o
apresentador trabalhava na rede Globo. Além do programa de domingo, "A Semana do
Presidente", que buscava relatar parcialmente e positivamente o dia-à-dia do principal
governante do país, uma forma de retribuir a conquista da concessão.

Para preencher esse espaço ocioso, segundo afirma o próprio site da
emissora, o SBT decidiu optar por programas popularescos, como "Moacyr Franco Show", "O Homem do Sapato Branco" e "Alegria". Isso chamou a atenção do público e fez a
emissora ocupar o segundo lugar na audiência, perdendo apenas para a Globo.

Esse estilo de programação perdura até hoje, atingindo o público das classes
D e E, com programas ao estilo de "Domingo Legal", do apresentador Augusto
Liberato, apelidado de Gugu, e "Ratinho", comandado pelo polêmico Carlos Massa.
"De domingo eu não perco Sílvio Santos e Gugu, eu os assisto desde que
começaram, pois são os meus preferidos. Além das novelas que são bem melhores que as
globais", confessou a babá Maria Aparecida da Silva, de 45 anos, enquanto lavava as
mãos do pequeno Gustavo.

Apesar de se tornar a segunda emissora do país, em 1983 o SBT participava de apenas 5% do bolo publicitário voltado à televisão, bem diferente da Globo que obtinha 60%. Para reverter a situação tentou investir em apresentadores mais conceituados no mercado, como Flávio Cavalcanti, Hebe Camargo e seriados como "Pássaros Feridos" e "Joana", estrelado por Regina Duarte. No entanto, foi em 1988 que a emissora marcou sua fase na busca pela qualidade, contratando Jô Soares, Carlos Alberto da Nóbrega. Serginho Groisman e Boris Casoy, estreando o departamento de jornalismo da casa (ver box).
"Antigamente eu até assistia bastante o SBT, mas atualmente o S.S. parece
ter acabado com tudo que tinha de bom, deixando só os piores programas",
reclamou o engenheiro chileno Osvaldo Amarin, de 35 anos, que se lembra, com um certo
orgulho, de algo que se tornou clássico na emissora paulista, o seriado do Chaves.
"Era e é muito bom ver um programa como esse, assistido por toda a America Latina".
Em 17 de junho de 1992, a Revista Veja publicou uma matéria informando que o
SBT registrava um faturamento de US$ 140 milhões e atraía o público das classes
A e B com os programas de Boris Casoy e Jô Soares, e das classes D e E com Aqui Agora, Sílvio Santos e Gugu. Atualmente a emissora registra 25% de audiência, tem 21% de participação publicitária e é dona de um dos mais modernos complexos televisivos do país.
Mas, segundo dados do IBOPE, publicados no dia 11 de abril de 2005, sua principal
fonte de riqueza, com 16% de audiência domiciliar, ainda é o sorridente Sílvio Santos.

A História do pequeno jornalismo
"Era estranho, mas de vez em quando alguns colegas jornalistas da sede, de
São Paulo, me diziam que as matérias que mandava eram muito críticas, muito
´esquerdistas`. Com colegas assim, nem precisava de pressão do dono da
emissora", relatou o jornalista e ex-militante político Mouzar Bendito, que começou a trabalhar na sucursal de Brasília do Jornal do SBT, em outubro de 1995 e ficou por lá até junho de 1996.
O relato de Benedito serve com perfil para definir o tipo de jornalismo que
o Sistema Brasileiro de Televisão se propunha a desenvolver. O primeiro
noticiário da casa nasceu em 1981 e se chamava "Noticentro", funcionava mais como "tapa
buraco" para não criar problemas com a justiça, que exige no mínimo 5% de jornalismo
na grade das emissoras brasileiras.
Na busca por maior presença no bolo publicitário das televisões, Guilherme
Stoliar, vice-presidente do SBT, aconselhou Sílvio Santos a criar um departamento de
jornalismo sério e com prestigio. Contratou Marcos Wilson e Luiz Fernando
Emediato, ambos ex-O Estado de S. Paulo. Conseqüentemente convidaram Boris Casoy para assumir como âncora, que só aceitou depois que suas restrições, quanto a imparcialidade da direção da emissora junto ao jornal, fossem estabelecidas. Assim, no ano de 1988 entrava no ar a primeira edição do Telejornal Brasil, ou TJ Brasil. "O ´Aqui Agora` foi péssimo. E pior, gerou um monte de programas semelhantes em outras emissoras", comentou Benedito, ao falar do precursor dos programas jornalísticos de sensacionalismo, que tinha como comentarista de economia o boxeador Maguila. Porém, era uma das maiores audiências no estado de São Paulo registrando 21 pontos, segundo apontou Veja do dia 1° de abril de 1992.
Uma semana depois, exatamente dia 8 de abril, a mesma revista publicou uma
matéria sobre a tentativa de demissão no ar de Boris Casoy, após uma discussão com o
diretor de jornalismo Marcos Wilson. Depois disso foram poucos meses a até
que Casoy abandonasse seu telejornal no SBT para aceitar o convite da Record,
Aonde está até hoje.
Atualmente, a emissora conta com o pequeno e curto Jornal do SBT,
apresentado por Hermano Henning. "O dono resolveu fechar o jornalismo e fez isso de uma hora para outra, sem nenhum argumento, sem aviso, sem nada. Chegou a ficar
praticamente sem telejornais, ou quase sem, o que me parece que vai contra o que é exigido em lei. Poderiam tomar a concessão dele, mas há presidente que banque isso?",
Concluiu Benedito
http://portalimprensa.com.br/noticias/carreira/1039/sbt+nasceu+apos+troca+de+favores+com+a+ditadura+++por+mauricio+miranda+++estudante+de+jornalismo+da+unifieo
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